22.7.07

Realismo fantástico não é para Hollywood

Will Ferrell, em Mais Estranho que a Ficção
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O gênero dramático da fantasia é perfeitamente compatível com a comédia, mas o do realismo fantástico, nem tanto. Por ignorar isso, Hollywood tem feito incursões desastrosas nesse gênero tornado célebre por Gabriel Garcia Marquez e Jorge Luis Borges.

A última foi o filme Mais Estranho que a Ficção, em que um funcionário público escravo de hábitos descobre ser um personagem literário destinado por sua autora a morrer de modo trágico. Ele procura a escritora e tenta reverter seu "destino", quando então o conflito da trama se torna um problema estético: o personagem trágico deve morrer, esse é um dos principais dogmas da arte dramática. Por outro lado, o personagem vivo, ante a iminência da morte, está redescobrindo a vida, até arrumou uma namorada e está aprendendo a tocar guitarra, ou seja, anseia por viver. O que vai ser, tragédia ou comédia? Sendo uma comédia, o filme só poderia ter um final de comédia, lógico. Acontece que no realismo fantástico nada é lógico. Uma solução melhor para o conflito seria que, ao invés de o personagem simplesmente continuar vivo porque o filme é uma comédia, a escritora morresse para que o personagem vivesse. Mas Hollywood não se aventura muito além do óbvio.

Outra dessas incursões, anos atrás, foi outro filme erroneamente concebido como comédia, o Feitiço do Tempo, em que um homem chato começa a despertar sempre no mesmo dia, não importa o que faça. Angustiado por essa estagnação temporal, ele chega a tentar o suicídio várias vezes, só para romper a aparente maldição, sem sucesso. Ele então resolve se tornar uma pessoa melhor, o que por fim desmancha o "feitiço". Se Hollywood tivesse ido mais fundo na psique do personagem, ele teria se tornado um assassino, protegido pela impunidade de não haver um dia seguinte.
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Idéias ótimas arruinadas em comédias, simplesmente porque Hollywood não conhece a diferença entre fantasia e realismo fantástico, ou porque não consegue levar este a sério.

20.7.07

O dia em que o Brasil ficou livre de ACM

A data de hoje deveria ser um feriado nacional, dia de festa e regozijo, mas até na morte esse monte de banha e prepotência que atendia pelo nome de Antônio Carlos Merdalhães fez uso de seu oportunismo atávico e orgânica desonestidade. Morrendo apenas dois dias depois da trágica queda do avião da TAM em São Paulo com quase duzentas vítimas, quem ousará demonstrar alegria ante o desaparecimento de um dos piores símbolos da rapina e do primitivismo sócio-econômico-político que assolam esta pobre ex-colônia há cinco séculos?

8.7.07

Impropério Romano

Cleópatra não era tão vagabunda, nem tampouco Otávia, que nunca deu para o Agripa, muito menos Ácia, que jamais deu para Marco Antônio, o qual portanto não foi expulso de Roma por comer a mãe de Otaviano, que por sua vez não estava em Roma quando Júlio César foi morto no teatro de Pompeu, não no Senado, por Bruto, que não vivia com a mãe, Servília, a qual não odiava César tanto assim, na cidade em que os cidadãos não se tratavam por “cidadão”, onde os judeus ainda não chamavam seu deus de Hashem, pela qual o rei deles, Herodes, não desfilou vestido como sátrapa otomano, e para onde Cesárion, filho de Cleópatra, não retornou vivo do Egito.

Apontar as inúmeras inexatidões históricas da excelente série Roma, da HBO/BBC, pode ser tanto teste de conhecimentos quanto exercício de pedantismo, mas estimula a pertinente discussão dos limites da ficção e da História na ficção histórica. Qual a vantagem de despender milhões de dólares para recriar uma época nos mínimos detalhes e, ao mesmo tempo, falsear os fatos ocorridos nessa época para fins dramáticos?

Com as devidas diferenças, Shakespeare fez o mesmo, a ponto de Churchill ter declarado que aprendera história da Inglaterra através das peças do Bardo. Ou seja, Churchill não aprendeu história da Inglaterra com Shakespeare; ele aprendeu Shakespeare, com a história da Inglaterra como pretexto.

Da mesma forma, Roma realiza uma recriação de época das mais realistas, para veicular uma peça de ficção; personagens verídicos e fatos históricos servem de mero suporte para dar credibilidade à imaginação dos roteiristas. O propósito não é ensinar História na TV; para isso estão aí os documentários. O propósito é tão-somente divertir, e a credibilidade mencionada garante que esse divertimento seja de um nível mais elevado que outras obras de teledramaturgia, como novelas e enlatados.

Para alguns, Roma reproduz impecavelmente o espírito da época, que seria mais importante que o rigor dos fatos. Por exemplo, sabemos que Augusto tentou, sem muito sucesso, implantar medidas moralizantes no hedonista povo romano, semelhantes aos atuais apelos do Vaticano para que os católicos europeus tenham filhos. A série pretende que o moralismo de Augusto teria origem na sua repulsa pela conduta imoral da mãe, e não na sua visão de estadista de que toda nação forte é conservadora (embora nem toda nação conservadora seja forte). O Bruto da TV mata César por instigação da mãe, embora o dos livros fosse casado. Segundo essa vertente, o mundo ocidental tornou-se o que é porque seus artífices não sabiam dizer “não” às suas mamães.


Destarte, a ficção histórica quer transformar conflitos históricos em pessoais, como forma de aproximar a História das pessoas que não a fazem. Tanto isso é verdade, que pessoas que fazem História preferem-na à ficção histórica; Napoleão devorava Plutarco e desprezava as peças históricas de Voltaire. Pois toda ficção requer imaginação para ser apreciada, e os que governam os destinos dos homens não podem dar-se ao luxo de ter imaginação, a qual, mesclada ao poder, sempre degenera em loucura, Nero e Heliogábalo que o digam.

25.6.07

Nefertiti para crente

Quando o rei Aquenaton, que governou o Egito por mais de uma década do século XIV a.C., foi identificado pela primeira geração de egiptólogos que o estudou, no começo do século XX, como o "primeiro monoteísta da História", os fundamentalistas judeus e cristãos torceram o nariz ante a possibilidade de o Deus Único de seus livros sagrados ter sido invenção de um faraó. Uma cruzada difamatória foi, destarte, mobilizada contra esse personagem, a quem chamaram, e chamam ainda, de louco, tirânico, incestuoso, homossexual. Esta última acusação, absurda como todas as demais, surgiu ante a evidência de um baixo-relevo em que Aquenaton é retratado acariciando amorosamente um co-regente de nome Smenca-Rá. Estudos mais criteriosos revelaram que Smenca-Rá, na verdade, era outro título para a esposa do rei, a famosa Nefertiti. Tal foi o único fato histórico que a escritora Jacqueline Dauxois juntou às mencionadas calúnias em seu romance Nefertite. Feito para agradar aos fundamentalistas, esse livro tolo apresenta cada episódio do Êxodo como verdadeiro, inclusive Moisés boiando num cesto quando bebê e as pragas do Egito, coroando-os com o supremo disparate, sugerido pela autora, de que Nefertiti seria o tal faraó que perseguiu os hebreus por um corredor aberto no mar Vermelho e acabou tragado pelas águas junto com seu exército, graças à divina intercessão de Hollywood. Mais épico que qualquer livro ou filme é a falta de senso crítico de Dauxois, inacreditável mesmo para uma crente.

11.6.07

Livro de mulherzinha

O romance A Casa das Sete Mulheres foi praticamente concebido para virar minissérie da Globo, tendo, de fato, sido publicado pouquíssimo antes que sua adaptação para a TV, em 2003, fosse ao ar. Antes desse livro, a autora gaúcha Leticia Wierzchowski era conhecida apenas pelo pujante conquanto limitado mercado editorial sulino. Segundo a informação oficial, a editora Record, uma das maiores do país, teria se interessado por um outro livro da autora e, ao conhecer seu projeto literário sobre a Revolução Farroupilha, resolveu bancá-lo sem pestanejar. O que se sabe é que a própria editora ofereceu a idéia da adaptação à Globo, que soube enxergar numa história com tantas saias e corpetes um produto feito sob medida para o público feminino consumidor de suas ridículas novelas.

Dito e feito: a minissérie sobre as mulheres que, enclausuradas numa estância no Rio Grande do Sul, na primeira metade do século XIX, assistem de longe à Guerra dos Farrapos, a mais longa, sangrenta e inútil da nossa História, foi um sucesso, embora o critério para escolha do elenco tenha sido a beleza e não o talento, como sempre se deve esperar do diretor de novelas Jayme Monjardim, um diretor de fotografia sem a mais remota noção de como dirigir atores. O grande mérito dessa adaptação mediana coube à música de Marcus Viana e ao talento dramatúrgico da roteirista Maria Adelaide Amaral, que parece talhada para adaptar livros chatos, como já fizera de forma igualmente bem-sucedida com A Muralha, romance virtualmente ilegível de Dinah Silveira de Queiroz.

Sim, porque o romance de Wierzchowski é chato num grau tão épico quanto o seu tema. Com estilo tosco, diálogos banais e didatismo explícito, A Casa das Sete Mulheres parece um livro feito para ensinar história do Rio Grande do Sul a mocinhas casadouras gaúchas da década de 30. Conflitos praticamente inexistem, não só porque as mulheres da família de Bento Gonçalves, o líder farroupilha, são todas belas, inteligentes, fortes, amam-se e vivem na mais perfeita harmonia (ao contrário das demais famílias da face da Terra), mas também porque não passam de nomes, personagens sem personalidade, sem psicologia, sem particularidades, sem idiossincrasias, tão-somente com descrições físicas infantis, do tipo “linda como uma princesa”, “de cabelos negros que brilhavam ao sol”, “seus olhos verdes cintilavam uma luz que dava mágica ao seu rosto”, ou “usava um vestido amarelo, com peito de rendas, que lhe acentuava a graça”. Um livro para mulherzinhas, sem o talento e a vivacidade das Mulherzinhas de Louisa May Alcott.
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Coube a Adelaide Amaral tecer tramas paralelas, dar dimensão aos personagens e criar conflitos entre eles, para a TV. Os milhares de telespectadores que, regalados com a bela fotografia e a envolvente trilha sonora da minissérie, ou mininovela, da Globo, procuraram no livro a matriz desta, decerto tornaram-se leitores decepcionados, pois, com exceção da pletora de nomes de pessoas e logradouros, nada há em comum entre o romance enfadonho de Wierzchowski e o roteiro melodramático de Amaral.

30.5.07

A beleza da destruição













O filme V de Vingança, de 2005, é um filme diferente dos outros, e como Hollywood raramente muda, essa característica por si só o torna polêmico. Subversivo, na mais ampla acepção da palavra: perplexidade ainda maior, em se tratando da politicamente conservadora Hollywood.

Os produtores são os mesmos da trilogia Matrix, em que os elementos da subversão e da transgressão estão bem presentes. Mas essa trilogia, apesar da ótima história, edifica-se mais sobre efeitos especiais espetaculares, tornando-se um inofensivo e caseiro cinema espetáculo com estética de videogame. V de Vingança tem efeitos também, mas muito menos, e corajosamente apóia-se na consistência da sua mensagem. E sua mensagem de mobilização contra o totalitarismo não poderia ser mais pertinente hoje, em que assistimos com certa inquietação à guinada que o mundo está dando para a extrema direita.

A história, basicamente, é a de um mascarado que, numa Inglaterra totalitarista do futuro, quer explodir o tirânico Parlamento. V incomoda, logo de cara, por confundir o maniqueísmo ao qual os filmes norte-americanos nos acostumaram. Embora se pareça a uma mistura de Zorro e Fantasma da Ópera, o mascarado V procura evocar a figura do subversivo católico Guy Fawkes, que em 1605 tentou sem sucesso explodir o Parlamento britânico, em represália à opressão deste contra os católicos.

Ora, o Parlamento britânico não é atualmente um símbolo de tirania, e a maior parte de nós gostaria de visitá-lo ao invés de destruí-lo. No entanto, a Alemanha tampouco era totalitária pouco antes da ascensão nazista, e a conivência do premiê Blair na criminosa e ilegal invasão do Iraque de 2003 (contra a vontade do povo britânico que o elegeu) demonstra que a Inglaterra, com uma monarquia decadente e um povo deploravelmente burguês, cuja maior diversão é ler tablóides sensacionalistas, não está suficientemente protegida contra governos ditatoriais.

Curiosamente, o filme, que condena o ódio às diferenças (o homossexual Stephen Fry faz o único papel que sabe, o de "veado cool”), foi atacado por ser diferente. Críticos tacanhos e imbecis rotularam-no de apologia ao terrorismo e coisas do tipo, como se ele endossasse atos semelhantes ao do 11 de setembro. Por outro lado, o filme parece aludir a esse atentado de forma mais sutil: um desastre biológico, que dizima boa parte da população britânica, é atribuído pelo governo ultraconservador a minorias dissidentes, quando na verdade foi encomendado pela própria chancelaria do premiê. É impossível não enxergar aí a teoria, assaz plausível, de que o atentado às Torres Gêmeas em Nova York foi “encomendada” pelo governo neofascista de George W. Bush, cuja família, aliás, possui estreitos laços com a de Osama Bin Laden.

O canastrão Hugo Weaving, que interpreta o chato agente Smith na trilogia Matrix, encontra em V o seu melhor papel, pela simples razão de que não podemos ver-lhe as caretas. O rosto deformado do personagem nunca é revelado, pois, como sua aprendiz sentencia no final, “V é você, sou eu, somos todos nós”. Essa aprendiz é interpretada com a usual competência pela gostosinha Natalie Portman, embora, como toda atriz norte-americana, ela seja incapaz de imitar o sotaque britânico de forma satisfatória.

27.5.07

Brutus ou Bruto?

A exibição da excelente série televisiva britânica Roma tem fornecido novos pretextos para que a influência excessiva do idioma inglês cause ainda mais estragos no nosso. À força de ouvir e ler nomes latinos pronunciados na sua forma arcaica, muitos brasileiros são levados a crer que essa forma é mais fiel do que sua forma moderna, ou seja, “Titus Pullo” ao invés de “Tito Pulo”, “Cassius” ao invés de “Cássio”, “Brutus” ao invés de “Bruto”, etc. Mas arcaico não quer dizer, necessariamente, fiel.


Na verdade, essa forma arcaica do latim é adequada apenas para uso dos idiomas não-latinos, como o inglês, pois em todos os idiomas neolatinos, isto é, oriundos do latim, houve uma evolução que precisa ser observada. Assim, o antigo “Claudius” tornou-se, em português e em espanhol, “Cláudio”, em italiano, “Claudio”, e em francês, “Claude”. Alegar que, em português, “Tiberius” e “Tarentum” são formas mais fiéis ao latim original do que “Tibério” e “Tarento”, é o mesmo que alegar que “Philippe da Hespanha” e “pharmacya” são mais fiéis ao português original do que “Filipe da Espanha” e “farmácia”.

26.3.07

O Príncipe e a Coroa

Já sabiam os antigos que uma narrativa singela, como uma fábula ou parábola, pode conter mais sabedoria que um tratado. Em seu filme Basquiat Julian Schnabel põe na boca do atormentado pintor neo-expressionista, morto de overdose aos vinte e sete anos, esta pérola que tão bem sintetiza a angústia criativa.

Minha mãe contou-me essa história. Ou foi um sonho?...

Havia um pequeno príncipe com uma coroa mágica. Um feiticeiro maligno raptou-o, encarcerou-o em uma cela numa torre enorme, e retirou-lhe a voz. Havia uma janela protegida por barras.

O príncipe aprisionado golpeava a cabeça contra as barras, na esperança de que alguém ouvisse o barulho e o encontrasse. A coroa produzia o som mais belo que alguém já ouvira. Podia-se ouvir o repique a quilômetros. Era tão lindo que as pessoas queriam agarrar o ar.

Nunca encontraram o príncipe. Ele nunca saiu da cela. Mas o som que ele fazia enchia tudo com beleza.

24.2.07

Fatalidade é o Deus de Babel

É meio discutível a mensagem que o filme Babel procura transmitir. A sucessão de tragédias nos quatro cantos do mundo, todas relacionadas, resulta de mera fatalidade. Ninguém é mau; é como se o mal tivesse existência própria e os seres humanos fossem seus propagadores involuntários. O gentil chinês que dá a arma a um guia, na África, o faz por amizade e gratidão; este, que vende a arma ao pai dos meninos, também é um bom homem, segundo o próprio chinês. O pai dos meninos, um honesto pastor de cabras no Marrocos, entrega a arma aos filhos, cujas idades não somam mais de 16 anos, para que matem os daninhos chacais; quando eles disparam contra um ônibus de turistas, atingindo uma norte-americana, só queriam testar o alcance das balas. A babá dos filhos dessa mulher só os leva ao México ilegalmente para poder assistir ao casamento do filho, e o sobrinho dela abandona as crianças no deserto da fronteira por medo da polícia norte-americana truculenta e racista. Talvez seja essa a causa da sensação que nos acomete, ao cabo do filme, de que falta alguma coisa. Sabemos que pessoas mal-intencionadas existem, ao contrário do que o filme pretende postular. Concordo, o mal está presente na ignorância do pastor que põe um um rifle na mãos de um garoto de oito anos; mas a verdade é que pastores armados no Marrocos não são raridade, que o contrabando de armas é a mais prejudicial das formas de comércio, e que as pessoas envolvidas nele sabem muito bem que essas armas serão usadas para matar seres humanos, não chacais. Qual é, portanto, o propósito de relativizar a maldade humana a ponto de negar-lhe a própria existência? No caso do filme Babel, a intenção parece ser a negação radical do maniqueísmo de Hollywood, e o convite a uma compreensão maior entre o Primeiro Mundo e o Terceiro, cuja miséria e atraso ocasionam os problemas que reverberam no Primeiro. Mas duvido que a constatação de que "a tragédia pode visitar a qualquer um de nós porque todos somos irmãos" faça muito para ajudar a erradicar a especulação financeira sobre a morte alheia praticada por uma família Bush, ou a conquista de poder via terror fundamentalista no estilo de um Osama Bin Laden. A propósito, como Babel retrataria esses dois indivíduos tão nocivos? Como homens bem-intencionados levados pela fatalidade a promover chacinas à sua revelia?

23.2.07

Quando Admond chorou

Encontrei hoje, após anos de busca, o livro When Nietzsche Wept, de Irvin Yalom. Eu o dera de presente ao meu saudoso amigo Admond Ben Meir, o Filósofo Virtual, no aniversário dele, 16 de junho de 98. Escrevi a seguinte dedicatória:
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When Nietzsche wept, my dearest friend, the Virtual Philosopher, told him: "Don't weep, Friedrich. It is no dishonour to be second best after me." Happy Birthday!
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Quando Admond morreu no ano seguinte, sua mãe me vendeu por preço de mãe quase todos os livros dele, que compõem o núcleo da minha biblioteca hoje, e o livro do Yalom veio de novo parar nas minhas mãos. Na última página, meu amigo havia escrito sua opinião sobre o livro:
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Inteligente, superbem construído, diálogos instigantes, conhecimento de causa... Fantástico!
23/7/98 - quinta-feira.
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Só então li o livro, e escrevi o seguinte comentário, logo abaixo do comentário dele:Faço minhas as palavras do meu amigo Admond, a quem presenteei este livro, tomado de volta após a sua morte, em 1999. Minha única crítica: a fácil resolução do problema de Breuer, recorrendo apenas a uma sessão de hipnose, que resultou miraculosa... e muito improvável.
Domingo, 13/10/2002.


Percebi o quanto em comum tinham Nietzsche e o Filósofo Virtual, além da genialidade e, claro, dos pendores filosóficos. Ambos passaram a vida inteira doentes, padecendo as dores da limitação física e da inteligência superior, morreram antes do seu tempo e pagaram um preço alto demais pelo gênio.

Eu ia colocar aqui uma foto do Admond que eu tinha (essa aí em cima é do Nietzsche, em 1899, pouco antes de morrer), mas guardei-a dentro de um livro, crente de que o meu amigo apreciaria a boa companhia. Ironicamente, esqueci qual era o livro.
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Por onde você anda, fratello?

12.2.07

Deixaram Ricardo Ramos de fora

Nesta madrugada iniciei a leitura, com sete anos de atraso, da coletânea Os Cem melhores Contos Brasileiros do Século. Século XX, bem-entendido. Já me deliciei com Porque Lulu Bergantim Não Atravessou o Rubicão, de José Cândido de Carvalho, já me comovi com A Nova Dimensão do Escritor Jeffrey Curtain, de Marina Colasanti, e já me decepcionei com A Balada do Falso Messias, de Moacyr Scliar. Foi muito comentada a ausência de Guimarães Rosa, decorrente de problemas de direito autoral. Estranhei, mas não lamentei, a ausência dos auto-intitulados "Trangressores da Geração 90", a saber, Marcelo Mirisola, Nelson de Oliveira e outros. Desses, só André Sant'Anna foi incluído. Mas uma ausência é injustificável: a de Ricardo Ramos, filho de Graciliano e um dos melhores escritores deste país. A antologia, organizada por um acadêmico qualquer, traz nada menos que cinco contos do superestimado Rubem Fonseca, e nenhum do subestimado Ricardo Ramos, autor do romance As Fúrias Invisíveis e do livro de contos Toada para Surdos, fonte da citação a seguir:

O espelho mostra os olhos, na órbita dos óculos, e as bolsas que debaixo deles se arredondam, meias-luas empapuçadas, com estrias, como se em relevo sobre o rosto cavado pesassem, repuxassem os dois globos nadando em baço líquido, o esquerdo mais lacrimoso a um canto, o direito um pouco mais estreito, ou contraído, essa diminuição que não é de perceber-se logo, deve-se firmar a vista para notá-la, o que nem sempre acontece pois a visão também se encolheu, desfocada, daí a sensação de um rosto a fazer mira, de tocaia no instante do tiro, enquanto vêm mais à tona o cinzento dos aros, o opaco das lentes, porque os olhos são por trás e afundam, uma vaga lembrança do que foram mostra o espelho. Mas não o que tanto viram para se cansar tão depressa.

9.2.07

Pot-pourri






Lulla e a primeira-drama diante da prioridade dele na presidência.





Leio na Folha que a educação do Brasil teve uma piora drástica no ensino médio e fundamental. Nada mais coerente num país que elegeu, e recentemente reelegeu presidente da República um apedeuta. Alguém imagina um povo de Primeiro Mundo, ultra-democrático, socialista até, escolhendo para chefe de Estado um semi-analfabeto? Os franceses aplaudem o Lulla, mas nunca elegeram um ignorante presidente ou premiê. Idiotas sim, ignorantes não. A ironia disso é que o Lulla, como brilhantemente observou Carlos Vereza, é uma invenção da USP, da UNICAMP e das comunidades eclesiais de base.


G




A exibição do documentário A Verdade sobre o Opus Dei pelo The History Channel (por que não pode chamar-se aqui Canal de História, como em Portugal?) levou-me à constatação de que sigilo em movimentos religiosos transforma-os em seitas aos olhos do público. Os templários e os jesuítas, em suas épocas de expansão, sofreram as mesmas calúnias hoje lançadas contra os discípulos de São Josemaría Escrivá: conciliábulos secretos, enriquecimento suspeito, manipulação de governos, aliciamento de fiéis. Nada de novo sob a chuva, como diriam os ingleses.


G


A feiosa porém atlética Franka Potente faz jus ao nome e sobrenome em Corra Lola Corra, talvez o melhor do cinema alemão contemporâneo. É ela mesma que corre durante o filme inteiro, nada de dublês nem cenas reaproveitadas.

Fico assistindo a filmes reprisados enquanto não entra em cartaz Satori Uso, o documentário do meu amigo Grota sobre o esquivo poeta japonês que viveu no Brasil na década de 50 e foi amigo de Jack Kerouac. O fato de ele nunca ter existido é um detalhe mesquinho. As pessoas que mais vale a pena conhecer nunca existiram.

7.2.07

Rainha Helena

A despeito do título, A Rainha (2006), de Stephen Frears, não pretende ser uma cinebiografia de Elizabeth II da Inglaterra, mas tão-somente uma reflexão sobre a inadequação de uma monarquia em um país de governo republicano. Helen Mirren, não só uma das maiores atrizes vivas, como também repleta de rainhas inglesas no currículo (incluindo Elisabete I), interpreta nada menos que perfeitamente a pouco carismática e conscienciosa titular atual do Palácio de Buckingham, entronizada numa época em que monarcas eram ainda tão taken for granted que não se sentiam na obrigação de dar satisfação a quem quer que fosse, muito menos ao povo. Diferente de hoje, em que a família real é obrigada a merecer, de alguma forma, os 40 milhões de libras que custa ao contribuinte inglês, embora Elizabeth inicialmente não se tenha dado conta disso, quando, em 1997, chocou o povo britânico com sua indiferença diante da morte trágica de sua odiada e carismática ex-nora, Lady Diana, que tantos problemas e escândalos havia feito chover sobre a debilitada herança de Guilherme o Conquistador.

O filme tem início com a eleição do primeiro-ministro Tony Blair (muito bem defendido pelo efeminado Michael Sheen, que imita à perfeição o sorriso afetado do premiê), para contrariedade de Elizabeth, que obviamente preferia um conservador. Com a morte de Diana, então divorciada do príncipe Charles, e a recusa da família real em outorgar-lhe honras fúnebres principescas, ou mesmo de fazer um espetáculo público da dor que não sentia absolutamente, Blair vê-se com uma crise monárquica nas mãos. Embora socialista, percebe de imediato que sua sobrevivência política depende da sobrevivência da monarquia decrépita que o seu gabinete recém-empossado representa.

Em alguns momentos o filme parece reverente demais, já que quase todos os personagens estão vivos, mas não faltam críticas ácidas ao anacronismo e insensibilidade dos Windsors. Charles é retratado como o que de fato é, um patético homem de meia-idade cuja vida consiste em esperar pela morte da mãe. Pior ainda é o príncipe-consorte Philip, nada além de um velho reacionário que só pensa em caçar. Em A Rainha Diana não é santificada como o foi pelo populacho inglês; é apenas uma memória, com direito a várias imagens de arquivo, que assombra a família real depois de morta tanto quanto a atormentou em vida. Nem Blair, a força modernizante da história, é poupado, quando Elizabeth, no fim do filme, sentencia que um dia ele também será odiado pelo povo britânico, como de fato foi, ao tornar-se lacaio do criminoso George W. Bush na invasão do Iraque.

O único momento poético do filme fica por conta do cervo imperial, no qual Elizabeth vê a si própria, que acaba caçado e decapitado, para rara consternação dessa mulher que suprimiu seus sentimentos à força de reprimi-los. De resto, A Rainha faz jus à própria Elizabeth: frio, competente, ocasionalmente justo, sem sal e cujo poder reside apenas na imagem.

29.11.06

Brasil Cor-de-Rosa

Este texto foi publicado originalmente na minha outra página, Síntese & Seleção, em 15 de agosto de 2005. Os dados aqui expostos devem ter mudado, mas suspeito que não muito.

O brasileiro parece ter só duas atitudes extremas para com o seu país: escracho ou ufanismo (não preciso esclarecer que ufanismo não é estudo dos UFOs, preciso?). Mensagens e piadas contra o Brasil circulam pela net todos os dias.

Hoje, excepcionalmente, recebi de uma querida amiga uma mensagem que pretende enumerar os pontos positivos do nosso país. Infelizmente, porém, a mensagem é de um ufanismo tão babaca, que se fosse só um pouquinho mais pretensiosa eu diria que o Arnaldo Jabor a escreveu. Meu Deus! será possível que não se pode ser otimista neste país sem cair na alienação e na imbecilidade?

Para tentar achar o meio-termo entre o ufanismo arnaldojaboriano dessa mensagem patética e a necessária autocrítica sem derrotismo, reproduzo a mensagem com alguns comentários meus em vermelho.

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O que é Brasil?
Os dados são da Antropos Consulting:

Esclarecimento preliminar: a Antropos Consulting não é nenhum órgão de recenseamento ou de pesquisa, e sim de consultoria empresarial, pertencente ao sr. Luiz Almeida Marins Filho, cujas palestras constituem a auto-ajuda dos empresários. Ou seja, o homem é uma espécie de Lair Ribeiro do empresariado, um otimista profissional, guru do neoliberalismo.

1. O Brasil é o país que tem tido maior sucesso no combate à AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, e vem sendo exemplo mundial.

Até aí, tudo bem.

2. O Brasil é o único país do hemisfério sul que está participando do Projeto Genoma.

Isso não é verdade. A Austrália foi um dos primeiros países a adotar esse projeto.

3. Numa pesquisa envolvendo 50 cidades de diversos países, a cidade do Rio de Janeiro foi considerada a mais solidária.

Do que adianta ser tão solidária e ter 5 mil pessoas por ano assassinadas por ladrões, por traficantes de drogas ou por policiais corruptos?

4. Nas eleições de 2000, o sistema do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) estava informatizado em todas as regiões do Brasil, com resultados em menos de 24 horas depois do início das apurações. O modelo chamou a atenção de uma das maiores potências mundiais: os Estados Unidos, onde a apuração dos votos teve que ser refeita várias vezes, atrasando o resultado e colocando em xeque a credibilidade do processo.

Nos EUA o voto é facultativo. Aqui é obrigatório, pois populistas e corruptos contam com o voto dos eleitores ignorantes e analfabetos, que nunca deveriam votar, mas são obrigados, e como essa massa de eleitores é gigantesca, os inúmeros e inúteis partidos brasileiros investem milhões no processo eleitoral, ao contrário dos EUA, que só têm dois partidos políticos.

5. Mesmo sendo um país em desenvolvimento, os internautas brasileiros representam uma fatia de 40% do mercado na América Latina.

Os países da América Latina e Caribe respondem por míseros 6% da população mundial de internautas. O Brasil tem hoje cerca de 17 milhões de internautas, menos de 10% da população.

6. No Brasil, há 14 fábricas de veículos instaladas e outras 4 se instalando, enquanto alguns países vizinhos não possuem nenhuma.

Talvez os países vizinhos não possuam nenhuma porque preferem investir em transporte coletivo, ao invés de desovar milhões de veículos novos no mercado a cada ano, atravancando cada vez mais as rodovias, tornando o trânsito mais caótico, o petróleo mais caro e o ar mais poluído.

7. Das crianças e adolescentes entre 7 a 14 anos, 97,3% estão estudando.

Dados do Unicef mostram que no Brasil 1,1 milhão de adolescentes entre 12 e 17 anos – 5,2% dessa faixa etária – ainda são analfabetos. Outros 8 milhões têm baixa escolaridade (menos de 5 anos de educação formal) e vivem em famílias cuja renda per capita é inferior a meio salário mínimo. Apenas 11,2% dos adolescentes entre 14 e 15 anos concluem o ensino fundamental. Este foi o que mais cresceu, mas sua qualidade é notoriamente má.

8. O mercado de telefones celulares do Brasil é o segundo do mundo, com 650 mil novas habilitações a cada mês.

O celular no Brasil é mais caro que nos EUA e alguns países da Europa. Os impostos são muito mais altos. Nos EUA, ficam em torno de 3%, enquanto no Brasil oscilam entre 40% e 60%, dependendo do estado. Em Roraima, chega a 62,9%. Na maioria, a tributação efetiva atinge 40%, sendo que no Rio de Janeiro é 50%.

9. Na telefonia fixa, o país ocupa a quinta posição em número de linhas instaladas.

O Brasil é o país que mais cobra impostos sobre serviços de telecomunicações no mundo, segundo pesquisa da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Sobre a conta telefônica incidem o ICMS estadual (a alíquota de São Paulo é de 25%) e os tributos federais Cofins (3%) e PIS (0,65%). Como esses tributos são aplicados sobre o valor final da conta, o consumidor paga imposto sobre imposto. Uma alíquota total de 28,5% representa uma tributação efetiva de 40,15%. Um exemplo: numa conta telefônica no valor de R$ 100, sem impostos, o consumidor vai pagar R$ 140,15. Além desses tributos, a conta de telefone traz ainda o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), com contribuição de 1%, e do Funtel (Fundo de Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações), com contribuição de 0,5%. Segundo a Anatel, quem paga esse valor são as operadoras e o preço não é repassado ao consumidor. Os brasileiros pagam uma tarifa muita alta, se comparada com as de outros países. Nos EUA e no Japão, por exemplo, o valor dos tributos são de 3% e 5%, respectivamente.
(Fonte: www.comparatel.com.br)

10. Das empresas brasileiras, 6.890 possuem certificado de qualidade ISO 9000, maior número entre os países em desenvolvimento. No México, são apenas 300 empresas e 265 na Argentina.

A cada ano são criadas mais de quatro milhões de micro e pequenas empresas no Brasil, o que representa 98% do total. Mesmo sendo responsáveis por 53% dos empregos gerados, 80% delas acabam fechando no primeiro ano de funcionamento, estranguladas pela carga tributária e pelos encargos trabalhistas.

11. O Brasil é o segundo maior mercado de jatos e helicópteros executivos.

Ha, ha, ha! De fato, a população no Brasil voa tanto de jatinho e helicóptero executivo, que chega a enjoar!

Por que esse vício de só falar mal do Brasil?

12. Por que não se orgulhar em dizer que o mercado editorial de livros é maior do que o da Itália, com mais de 50 mil títulos novos a cada ano?


Porque não há motivo algum para orgulho. Apenas 25% da população brasileira sabe ler e escrever. Menos da metade desses 25% tem acesso a esses 50 mil títulos novos. O fato de livros serem publicados em grande quantidade não significa que são lidos. Num país em que a meia-dúzia de firmas que monopolizam a produção editorial são pertencentes a bancos e holdings estrangeiras, a produção excessiva de livros serve apenas para justificar orçamentos milionários. Que diferença faz para o Unibanco, dono da Companhia das Letras, editar mil ou 10 mil títulos novos por mês?

13. Que o Brasil tem o mais moderno sistema bancário do planeta?

E por que não teria, já que os bancos virtualmente POSSUEM o Brasil, desde que o governo FHC aliou-se a eles para saquear os brasileiros através da CPMF e outras “contribuições”? E que, desde o começo do governo Lula, lucram sozinhos quatro vezes mais que todas as outras empresas. Não existe no mundo inteiro um país onde os bancos sejam tão onipotentes como no Brasil. Antigamente, bancos mal-administrados faliam aqui como qualquer empresa. Hoje não. Banco não quebra no Brasil. Qualquer agiota que ameace quebrar, o Banco Central vai correndo resgatá-lo.

14. Que as agências de publicidade ganham os melhores e maiores prêmios mundiais?

Duda Mendonça tem demonstrado nos últimos anos para que servem REALMENTE os publicitários neste país.

15. Por que não se fala que o Brasil é o país mais empreendedor do mundo e que mais de 70% dos brasileiros, pobres e ricos, dedicam considerável parte de seu tempo em trabalhos voluntários?

Não existe um só país na face da Terra que não diga a mesma coisa sobre si próprio.

16. Por que não dizer que o Brasil é hoje a terceira maior democracia do mundo?

A Índia é a maior democracia do mundo. E daí? É também o país mais pobre do mundo.

17. Que apesar de todas as mazelas, o Congresso está punindo seus próprios membros, o que raramente ocorre em outros países ditos civilizados?

Isso raramente ocorre em outros países “ditos civilizados” porque neles os corruptos raramente são eleitos para o Congresso, ao passo que aqui até corruptos JÁ punidos, como o repulsivo Antônio Carlos Magalhães, são reeleitos.

18. Por que não lembrar que nós somos um povo hospitaleiro, que se esforça para falar a língua dos turistas, gesticula e não mede esforços para atendê-los bem?

Só no Rio de Janeiro, principal porta de entrada dos turistas no País, foram registradas, em 2004, 3 mil agressões aos viajantes estrangeiros. Em Copacabana, pivetes protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente são os protagonistas dessa violência. Num período em que o turismo mundial alcançou um número recorde (500 milhões de viajantes), o Brasil se deu o luxo de perder 1 milhão deles. Hoje, o Brasil recebe menos turistas do que o Uruguai, e muito menos do que a Argentina. O balneário uruguaio de Punta del Leste recebeu no último verão tantos turistas quanto o Rio de Janeiro!

19. Por que não se orgulhar de ser um povo que faz piada da própria desgraça e que enfrenta os desgostos sambando. É! O Brasil é um país abençoado de fato.

Abençoado por ter desgraças? Rir da própria desgraça ao invés de indignar-se e combater a causa dela, é a razão pela qual a desgraça permanece. Quem come bosta e dá risada é hiena.

20. Que nós somos considerados os maiores amantes do mundo, enquanto que os ingleses e os árabes são os piores?

Sim, orgulhar-se de bobagens como essa é uma das razões do descontrole da natalidade neste país, com pobres e miseráveis, que mal podem sustentar a si próprios, gerando mais e mais filhos igualmente pobres e miseráveis.

21. Que nós tomamos banho todos os dias, às vezes mais de um por dia enquanto que os europeus tomam em média um por semana? O país do mundo onde a Gessy Lever mais vende sabonetes é o Brasil.

Este é o único item com que estou de pleno acordo.

Bendito este povo, que possui a magia de unir todas as raças, de todos os credos.

De fato, qualquer vigarista que resolve fundar uma igreja aqui se dá muito bem. Fica milionário da noite para o dia, e ainda recebe isenção fiscal. Com mais um pouco de sorte, poderá até ganhar uma concessão de emissora de rádio e TV. Como diria o pseudobispo Edir Macedo, “templo é dinheiro”.

Bendito este povo, que sabe entender todos os sotaques.

Não entendi qual o mérito de entender um sotaque.

Bendito este povo, que oferece todos os tipos de climas para contentar toda gente.

Que eu saiba, os climas existentes no Brasil são o tropical, subtropical, semi-árido e equatorial. Ou seja, com raras exceções, aqui faz um calor do cão.

Por que nós temos a mania de só ser nacionalista e patriota durante a Copa do Mundo? Se fosse assim todos os dias, vibrador como é durante a Copa, talvez hoje o Brasil seria uma superpotência...

Sem comentários.

Bendita seja, querida pátria chamada Brasil!

Divulgue esta mensagem para o máximo de pessoas que você puder. Com essa atitude, talvez não consigamos mudar o modo de pensar de cada um de nós, mas ao ler estas palavras irá, pelo menos, por alguns momentos, refletir e nos orgulharmos de sermos BRASILEIROS!!!


Não é com ufanismo imbecil, dados mentirosos e atitude de Policarpo Quaresma que vamos mudar o pessimismo que as classes dirigentes inculcaram nos brasileiros que lêem jornal, e sim com ações concretas para remover essas classes até o último membro, e substituí-las por cidadãos dignos. O problema precisa ser encarado com objetividade e combatido, não enfeitado com o chapéu de bananas da Carmem Miranda. Ou, como diz Dias Gomes em sua peça Amor em Campo Minado:

“Não adianta pintar a bosta de cor-de-rosa e fingir que é sorvete de morango”.