25.10.08

Outubro dos Paulos

Os lançamentos de autores nacionais da Geração Editorial neste mês foram todos escritos por Paulos: Suicídio, de Paula Fontenelle, As Maluquices do Imperador, de Paulo Setúbal, e Jack, o Estripador, do humilde mantenedor deste blogue. Recomendo esses três livros paulinos.


Ela estava de férias em Miami quando recebeu a ligação da irmã informando que o pai tinha se matado com um tiro na cabeça. Antecipar a volta representou uma nova fase. A jornalista Paula Fontenelle queria saber o por que e não mediu esforços. “O que leva alguém a tirar a própria vida? Este ato, pode ou não ser prevenido?” Na busca por explicações, Paula voltou à infância para resgatar o passado do pai. Conta detalhadamente das dificuldades dele, do medo de falhar, da forma rígida de ser, agir, das fragilidades e dos sentimentos recolhidos que ele transportava para o alcoolismo, como um refúgio. Em Suicídio - O Futuro Interrompido há histórias, relatos de quem esteve à beira de cometer o ato, pesquisa e um alerta com informações sobre prevenção.



“Foi numa noite de gala, aniversário do príncipe regente, que D. Pedro viu no palco, pela primeira vez, a bailarina entontecedora. Era uma francesinha de matar. Uma boneca de luxo, toda pluma, frágil como um bibelô. E tão loira! E tão fresca! E dona duns olhos tão grandes, tão liricamente azuis!” O trecho fala do primeiro amor de D. Pedro, quando, aos 17 anos, teve a primeira loucura da adolescência e aventurou-se na paixão por Noemi. Em todos os capítulos as histórias da família real são contadas em detalhes, rico vocabulário e com muito humor.



O que torna Jack mais interessante que todos os outros assassinos seriais é o fato de nunca ter sido preso e de não termos idéia de quem ele foi, nem por que cometeu seus atrozes assassinatos. Ele é uma sombra, um enorme ponto de interrogação traçado com sangue. O Estripador se transformou em lenda porque os mitos brotam das lacunas deixadas pela História. Tentar adivinhar a identidade do criminoso de Whitechapel ainda é a principal pergunta ou mistério policial da atualidade.
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Mais detalhes na página da Geração.

13.10.08

Alice no país da suruba e do amadorismo

No tempo em que morei na ultraprovinciana Londrina — período que costumo denominar minha Idade das Trevas pessoal — fui levado a participar dum desses chamados encontros de casais, em que casais ouvem outros casais falarem sobre como é estar casado. Sendo o abominável evento promovido por uma paróquia, não me surpreendeu sua péssima organização; o que sim me surpreendeu foi tamanha desorganização ser deliberada e não acidental. Segundo um dos (des)organizadores, pessoas que já conheciam bem este ou aquele ofício no evento não eram reaproveitadas na mesma ocupação a fim de evitar que se tornassem “profissionais”, o que supostamente prejudicaria o seu “espírito de entrega”, ou algum outro clichê católico de que, por estar afastado, graças a Deus, da religião, não me recordo agora.

Em outras palavras, o amadorismo seria uma coisa mais agradável a Deus que o profissionalismo. Não admira Ele ser brasileiro.

Esse mesmo espírito retrógrado predomina até nas modernas telecomunicações do Brasil, como demonstra a baixíssima qualidade de Alice, a nova série brasileira da HBO — pronunciada êitch-bi-ou pelos macaquinhos daqui em vez de agá-bê-ó —, que está desembolsando nada menos que um milhão por episódio dessa produção, cujos quadros são todos ocupados por amadores, a começar pelo elenco. Alice trata de uma garota do interior que vem a São Paulo e se deslumbra com este suposto “país das maravilhas”, dando a entender que o propósito oculto (mas nem tanto) da série é incentivar o turismo sexual na megalópole, assim como a igualmente execrável Mandrake (também da HBO) parecia ser um cartão-postal do Rio de Janeiro como paraíso de popozudas desfrutáveis.

A forma que o amadorismo autoral de Alice encontrou de tornar São Paulo a nova Cidade Maravilhosa foi transformar as paulistas em cariocas, ou no que as cariocas são para a mídia: libertinas. A tia de Alice é lésbica e maconheira, suas amigas e vizinhas são promíscuas, sua circunspeta chefe transa com o motorista paraguaio dentro do carro, Alice mal chega a Sampa e já começa a enfeitar a testa do noivo que ficou para trás, em Palmas, durante rodadas de sexo casual com sujeitos que mal conhece. “Venha para São Paulo e você vai sair da secura”, é o que esse programa de quinta categoria parece apregoar.

Os produtores se orgulham de não ter ocupado pessoas famosas no elenco; poderiam ter feito uma concessão aos atores de talento. Para o diretor, os intérpretes de Alice, por serem estreantes, são mais “intensos”. Eles são mesmo intensamente ruins, inclusive a protagonista, Andréia Horta, escolhida exclusivamente por ser o que os americanos chamam de um fine piece of ass. Dizer que os diálogos são infantis é insultar a inteligência das crianças. Nenhum personagem, a julgar pelo nefasto roteiro, tem QI acima de 5. Se a idéia era que os personagens falassem como todo mundo fala, o resultado foi que eles falam como todo imbecil fala.

Que fim levou a excelente equipe de Filhos do Carnaval, a única coisa boa produzida pela HBO nestas bandas?