13.10.08

Alice no país da suruba e do amadorismo

No tempo em que morei na ultraprovinciana Londrina — período que costumo denominar minha Idade das Trevas pessoal — fui levado a participar dum desses chamados encontros de casais, em que casais ouvem outros casais falarem sobre como é estar casado. Sendo o abominável evento promovido por uma paróquia, não me surpreendeu sua péssima organização; o que sim me surpreendeu foi tamanha desorganização ser deliberada e não acidental. Segundo um dos (des)organizadores, pessoas que já conheciam bem este ou aquele ofício no evento não eram reaproveitadas na mesma ocupação a fim de evitar que se tornassem “profissionais”, o que supostamente prejudicaria o seu “espírito de entrega”, ou algum outro clichê católico de que, por estar afastado, graças a Deus, da religião, não me recordo agora.

Em outras palavras, o amadorismo seria uma coisa mais agradável a Deus que o profissionalismo. Não admira Ele ser brasileiro.

Esse mesmo espírito retrógrado predomina até nas modernas telecomunicações do Brasil, como demonstra a baixíssima qualidade de Alice, a nova série brasileira da HBO — pronunciada êitch-bi-ou pelos macaquinhos daqui em vez de agá-bê-ó —, que está desembolsando nada menos que um milhão por episódio dessa produção, cujos quadros são todos ocupados por amadores, a começar pelo elenco. Alice trata de uma garota do interior que vem a São Paulo e se deslumbra com este suposto “país das maravilhas”, dando a entender que o propósito oculto (mas nem tanto) da série é incentivar o turismo sexual na megalópole, assim como a igualmente execrável Mandrake (também da HBO) parecia ser um cartão-postal do Rio de Janeiro como paraíso de popozudas desfrutáveis.

A forma que o amadorismo autoral de Alice encontrou de tornar São Paulo a nova Cidade Maravilhosa foi transformar as paulistas em cariocas, ou no que as cariocas são para a mídia: libertinas. A tia de Alice é lésbica e maconheira, suas amigas e vizinhas são promíscuas, sua circunspeta chefe transa com o motorista paraguaio dentro do carro, Alice mal chega a Sampa e já começa a enfeitar a testa do noivo que ficou para trás, em Palmas, durante rodadas de sexo casual com sujeitos que mal conhece. “Venha para São Paulo e você vai sair da secura”, é o que esse programa de quinta categoria parece apregoar.

Os produtores se orgulham de não ter ocupado pessoas famosas no elenco; poderiam ter feito uma concessão aos atores de talento. Para o diretor, os intérpretes de Alice, por serem estreantes, são mais “intensos”. Eles são mesmo intensamente ruins, inclusive a protagonista, Andréia Horta, escolhida exclusivamente por ser o que os americanos chamam de um fine piece of ass. Dizer que os diálogos são infantis é insultar a inteligência das crianças. Nenhum personagem, a julgar pelo nefasto roteiro, tem QI acima de 5. Se a idéia era que os personagens falassem como todo mundo fala, o resultado foi que eles falam como todo imbecil fala.

Que fim levou a excelente equipe de Filhos do Carnaval, a única coisa boa produzida pela HBO nestas bandas?