17.6.12

Lulyoda

10.6.12

Vou lhe mostrar o plágio


Poe e Cusack: fala sério!
Eu era adolescente quando, em visita ao Chile, caiu-me nas mãos um belo volume das obras de Edgar Allan Poe em espanhol. Fiquei absorto pela leitura a ponto de mal perceber um tremor de terra que apavorou toda Santiago. Essa minha iniciação teve uma vantagem adicional: como eu nada sabia das histórias do mago do terror, experimentei a mais espantosa e gratificante surpresa ao concluir “Os assassinatos da rua Morgue”; a maioria já sabe quem era, ou o que era, o assassino desse conto com que o poeta Poe criou o gênero policial na literatura.

Os melhores autores (exceto dramaturgos, como Shakespeare) são sofrivelmente adaptados para o cinema. Nunca vi um filme bom baseado em textos de Poe. Aqueles protagonizados por Vincent Price são mais divertidos que assustadores. Eis que me surge então um filme baseado não em Poe, mas que tem Poe como protagonista. A trama é originalíssima: um serial killer comete assassinatos inspirados nas histórias tétricas do autor de “O corvo”. Infelizmente, porém, O corvo (2012) é péssimo, tremendo desperdício de uma ótima ideia. Não ficamos impressionados e nem surpreendidos pela identidade do homicida, que poderia ser qualquer pessoa. O atlético John Cusack não convence como o franzino e atormentado Edgar, que aliás nunca usou cavanhaque.

Bem mais intrigante é o mistério de como dois roteiristas medíocres — Ben Livingston, atorzinho de quinta que nunca escreveu nada antes, e uma autora de episódios do cretino Ghost Whisperer com o nome obviamente adotado de Hannah Shakespeare — podem ter concebido uma ideia tão boa, embora pessimamente aproveitada. A solução desse mistério, ao contrário do da rua Morgue, eu sabia de antemão: eles não conceberam coisa alguma. O autor da ideia sensacional foi o norueguês Nikolaj Frobenius, em seu romance Jeg skal vise dere frykten [Vou lhe mostrar o medo], de 2008. Hollywood faz essas coisas: paga a um autor para usar a obra dele e paga o dobro para que ele abra mão dos seus créditos no filme vindouro. Foi assim, parece, com o Simba de O rei leão, plágio descarado do desenho animado japonês cujo protagonista se chama... Kimba. Dar-se-á o mesmo com Frobenius? Do contrário, como explicar que não esteja todo dia bebendo aquavit com seus advogados?

Frobenius não foi apenas plagiado: foi mal plagiado. No seu livro sabemos desde o início quem é o criminoso e entendemos, tanto quanto possível, as motivações psicóticas dele. Edgar também sabe quem é, por isso mesmo nada pode fazer para impedir-lhe os macabros assassinatos. Trata-se de um romance psicológico que mescla realidade e ficção com notável competência, procurando explicar fatos inexplicáveis da vida de Poe à luz (ou às trevas) desse elemento fictício do homicida empenhado em tornar realidade a imaginação do homem que Jorge Luis Borges descreveu como “sublime criador de pesadelos”.

A boa notícia é que esse livro formidável será lançado nos Estados Unidos, revelando o plágio descarado aos norte-americanos, e, dentro de alguns meses, aqui no Brasil, pela Geração Editorial.

1.3.12

Caricatura traçada com sangue

Meu prefácio para o livro Hitler - Retrato de uma tirania, de Fernando Jorge.



Em 1963, na rua São Bento, em São Paulo, o então jovem escritor Fernando Jorge encontrou um amigo, o também escritor e político Israel Dias Novaes, diretor do Banespa e do jornal Correio Paulistano.



Os dois foram juntos a um café de esquina, onde Israel, conhecedor da predileção de Fernando por História, recomendou-lhe certo livro que lera recentemente. Tratava-se de uma biografia de Adolf Hitler, recém-publicada no Brasil, escrita por um autor alemão chamado Herman Zumerman (não Hermann Zummerman, na grafia alemã correta). O título dessa obra era Hitler – Anatomia de uma tirania, e na nota do editor dizia o seguinte:

O crítico Alfred Belsen escreveu, a propósito deste livro: “Zumerman é, indiscutivelmente, um grande escritor. Seu estilo é excelente, muito agradável, saboroso. Consegue prender a atenção do leitor do começo ao fim. Hitler – Anatomia de uma tirania pode ser considerado, com justiça, o maior livro que apareceu, nestes últimos tempos, sobre o homem monstruoso que desencadeou, no mundo, a Segunda Grande Guerra”.


Animado, Novaes elogiou o livro, por sua clareza de estilo e abrangência da pesquisa realizada, mas sobretudo pela tradução ímpar, creditada a um certo Raul Rodrigues.


Ao ouvir isso, Fernando Jorge caiu na gargalhada, e, diante da perplexidade do amigo, soltou esta bomba:


— Herman Zumerman sou eu!


O livro, na verdade, fora escrito em português pelo próprio Fernando, e publicado sob pseudônimo, por imposição de seu editor, o judeu búlgaro Eli Behar. Na realidade editorial brasileira de então, autores estrangeiros vendiam mais que os nacionais, de modo que Herman Zumerman, o crítico Alfred Belsen e o tradutor Raul Rodrigues haviam sido todos inventados por Behar, numa época sem internet, em que tais imposturas passavam facilmente por verdades.


O próprio Fernando Jorge conta, a respeito disso:


“Eu não queria de modo algum publicar o livro com outro nome que não o meu, mas o editor me fez uma proposta boa demais, e como eu ganhava muito pouco na Assembleia, havia acabado de me casar e precisava desesperadamente do dinheiro, acabei aceitando.”


Esta é a nova edição corrigida e atualizada — inclusive no subtítulo — de uma das primeiras biografias de Hitler escritas por brasileiro. A raridade dela é ainda maior pelo fato de que escrever sobre a vida de alguém, falar dos seus pais, sua infância e vicissitudes, é humanizar esse alguém, e na década de 60 o Führer não era considerado um homem, e sim a encarnação do mal.


A distância do pós-guerra, bem como novos estudos históricos conduzidos com mais critério que emoção, têm possibilitado uma compreensão melhor da pessoa do líder austríaco, despojando-o do elemento sobrenatural e julgando-o no contexto de seu próprio tempo. O que em nada altera o fato de ele ter sido um monstro. Não o diabo, apenas um homem, sim, embora o pior de todos que já comandaram uma superpotência.


Poucos personagens históricos são tão indefensáveis quanto o Führer do Terceiro Reich. Com uma mistura de maquiavelismo político, monomania e falta de escrúpulos, ele seduziu uma nação, apelando aos seus instintos mais primitivos e mesquinhos, precipitou o maior conflito armado de todos os tempos e causou milhões e milhões de mortes. Nenhum outro indivíduo foi diretamente responsável por tanta destruição, a tal ponto que, para chamar um personagem público de ogro autoritário e/ou criminoso, basta pintar-lhe um bigodinho de Hitler numa foto. Nenhum outro ditador se enquadra tão bem nas características principais do psicopata, segundo o Ato de Saúde Mental do Reino Unido de 1983:


A) Incapacidade de estabelecer relacionamentos afetivos (Hitler amou somente a sua mãe e a sua cadela, à qual fez a suprema caridade de envenenar quando se suicidou).


B) Propensão a ações altamente impulsivas e irracionais (a marca registrada da trajetória política dele, cujo sucesso inicial se deveu a uma capacidade suprema de manipulação mesclada a uma ideologia antissemita sem qualquer base factual).


C) Falta de sentimento de culpa ou de responsabilidade pelas próprias ações.


D) Incapacidade de aprender de experiências adversas.


Entretanto, para quem ignora quem ele foi e todo o mal que causou, Hitler parece apenas ridículo, com seu bigode quadrado, topete pré-emo e gestual furibundo. Seus contemporâneos, antes que ele chegasse ao poder, achavam-no esquisito e algo excêntrico, mas inofensivo. O genial Charlie Chaplin foi um dos primeiros a explorar a qualidade truanesca da pessoa do Führer, ao retratá-lo na melhor sátira política da história do cinema, O grande ditador, de 1940.




De fato, quase todos os ditadores são caricaturas vivas. Não só Hitler parecia um Carlitos mal-humorado, como seus amigos Stalin, Mussolini e Franco eram nanicos; o Duce, em particular, não passava de um tampinha cabeçudo, de uniforme extravagante e metido a machão. A verdade é que, precisamente por serem caricatos e caricaturáveis, esses homens perseguiram tão avidamente o poder, como forma de superar seus monumentais complexos de inferioridade. Porque maçantes, não foram considerados perigosos, e isso possibilitou que se tornassem caricaturas desenhadas com sangue, em virtude do poder mortífero que vieram a abocanhar.


Finda a guerra, com a extensão dos crimes nazistas revelada e as imagens aterradoras do Holocausto divulgadas, o chocado público parou de rir do topete do Führer e, pulando para o outro extremo, fez dele um bicho-papão. Aos sobreviventes dos campos de extermínio não bastava mais o escárnio, era necessária a execração aos assassinos. Assim, o líder nazista tornou-se tabu, uma figura tão nefasta, que quanto menos se falasse dele, melhor. Relativamente pouco se escreveu sobre a sua vida — à exceção de Hitler: a study in tyranny, do inglês Alan Bullock, publicado em 1952 — pois, como eu já disse, biografar é humanizar, e ninguém queria saber de um Hitler humano. Traumatizada pelo delírio nazista que a destruiu, a Alemanha só gerou a sua primeira grande biografia do Führer, escrita por Joachim Fest, em 1973, dez anos depois desta de Herman Zumerman, aliás, Fernando Jorge.


Talvez a obra cinematográfica mais típica desse processo de satanização seja o filme baseado num romance de terror, Os meninos do Brasil, em que a mera existência de clones infanto-juvenis do Führer constitui uma futura ameaça ao planeta. Não por acaso, o autor desse livro foi o judeu nova-iorquino Ira Levin, competente criador de diabos, dentre os quais o mais notório (e assustador) foi O bebê de Rosemary.


Caricatura de David Levine
Uma tentativa corajosa e impagável de ridicularizar essa demonização de Hitler, reconduzindo-o à sua condição caricatural, foi o filme de 68 (depois adaptado como musical) Primavera para Hitler, onde o cineasta Mel Brooks, embora judeu, o retrata como uma simpática bicha louca de uma peça propositalmente destinada a chocar a Jew York do pós-guerra, mas que, contra todos os prognósticos, se torna um retumbante sucesso.


Esses filmes foram, no entanto, exceções à regra: controlada por judeus, Hollywood basicamente ignora Hitler até hoje. Nas décadas de 70-80, o Führer foi protagonista de algumas produções europeias de baixo orçamento, ainda que com atores da estatura de Alec Guinness e Anthony Hopkins. O telefilme inglês de 2003, Hitler – A ascensão do mal, repisa a imagem do tirano em seus primórdios como um jovem monstro desprovido de qualquer humanidade.


No ano seguinte, porém, o excelente filme alemão Der Untergang, sobre as últimas horas do Führer, chocou milhares de espectadores ao caracterizá-lo não como o energúmeno que vemos nos documentários, vociferando feito um possesso em um microfone, e sim como um homem frágil, precocemente envelhecido e com avançado mal de Parkinson, que dispensa pequenas gentilezas às secretárias e agradece à cozinheira pela última refeição. Se para os parentes dos mortos em Auschwitz e Dachau o Hitler Carlitos havia perdido a graça, o Hitler que diz “obrigado” era intolerável. Mesmo pessoas sem cicatrizes da monstruosidade nazista, mas conhecedoras de sua extensão, reagiam de forma muito passional a qualquer tinta menos negra no retrato do genocida-mor do Ocidente. É como se temessem o menor grau de identificação com tão assombroso personagem. A ilação inconsciente que se faz nesse caso é: “Se ele era humano como eu, eu posso ser um monstro como ele”.


Não há utilidade alguma em reduzir Hitler a um bigodinho tolo, muito menos em elevá-lo a Príncipe das Trevas. É importante preservar a dimensão humana do Führer para não nos esquecermos que ele não foi um fenômeno isolado e que, portanto, pode muito bem ressurgir em qualquer lugar, a qualquer momento, na pessoa de qualquer ditador ressentido e carismático. Se a trajetória do líder nazista nos serve de algo, é para nos alertar contra líderes políticos e religiosos contemporâneos de viés populista, considerados inofensivos precisamente pelo elemento algo burlesco, bonachão ou até cômico em suas personalidades, na sua aparência ou modo de falar, mas que, uma vez dotados de poder, seja por meio de eleições, roubo ou golpe de estado, não hesitarão em tirar o chapéu-coco e envergar a suástica.


Conhecer a história de Hitler e do nazismo nos dota de um termômetro para auferir a temperatura antidemocrática dos nossos próprios governos. Acaso temos políticos afeitos ao personalismo? Que violam sistematicamente promessas de campanha, ou que, por mais democráticos que se autodefinam, entregam-se a arroubos autoritários, exasperam-se com críticas e procuram a todo custo calar a imprensa, o TCU e outros órgãos vigilantes do regime democrático? Que são amigos de ditadores? Que gritam e gesticulam demais em comícios, a fim de usar o povo ignorante como massa de manobra? Se a resposta for afirmativa para alguma dessas perguntas, não estamos muito mais seguros que a República de Weimar, e todo cuidado é pouco.


29.1.12

Sublime anonimato

A discussão sobre quem escreveu as peças teatrais e poemas atribuídos a William Shakespeare começou logo após a morte deste e já dura 400 anos. Numerosas, ainda que circunstanciais, as evidências contra a autoria do ator inglês vão da inexistência de manuscritos seus ao fato de ele não ser letrado o bastante para gerar tão erudita obra. Candidatos à identidade posta em dúvida variam do filósofo Francis Bacon ao dramaturgo Christopher “Kit” Marlowe.


Não é difícil imaginar o escândalo que tais teorias provocam no empoeirado establishment acadêmico, na rentável indústria do turismo em Stratford-upon-Avon, cidade natal de Shakespeare, ou simplesmente nos acostumados ao ícone semicalvo de enorme colarinho. Os ingleses, de um modo geral, não se incomodam que o autor verdadeiro seja outro John Bull; inadmissível seria que não fosse inglês.



A mim essa polêmica interessa apenas como arte, e em tal capacidade Anônimo, o primeiro filme a botar a colher na briga, é arte da boa. Com a fortuna que ganhou fazendo cinema catástrofe para Hollywood, o diretor alemão Roland Emmerich nos deu em Anônimo a sua melhor película. Nela, os recursos técnicos usados para explodir a Casa Branca, congelar Nova Iorque, ressuscitar Godzila e destruir o mundo, serviram para reconstituir a Londres elisabetana com toda beleza e fidelidade possíveis. Embora financiado por dólares, o filme traz apenas britânicos no elenco, garantindo a impecabilidade da pronúncia e da interpretação.



Anônimo advoga a famosa tese de que Edward de Vere, conde de Oxford, escreveu os mais soberbos monumentos da literatura inglesa, encenando-os no anonimato porque não ficava bem um nobre se dedicar a atividades tão vis como teatro. Will Shakespeare, em contrapartida, é um rufião iletrado que não só se faz passar por autor dessas obras-primas, como ainda extorque dinheiro do conde em troca de não lhe revelar o segredo. Afinal, o patético Polônio, apunhalado em Hamlet, não passa de uma caricatura do puritano William Cecil, conselheiro da rainha, o que poderia custar a de Vere uma temporada na sinistra Torre de Londres. Mercenário, Will chega a assassinar Kit Marlowe, que estava prestes a descobrir a verdade sobre a impostura. O artista puro e incorruptível encontra sua voz no teatrólogo Ben Johnson, autor de Volpone, que inicia o filme arriscando a vida para proteger os originais da obra de de Vere das garras do arquivilão corcunda Robert Cecil, filho de William e inspirador do grotesco personagem Ricardo III.




Anônimo trata a monarquia britânica com a irreverência que ela merece e que nenhum cineasta inglês parece ter, a julgar pelas recentes baboseiras patrióticas A rainha e O discurso do rei. Creio ser esse o filme que mais justiça fez à algo enigmática Elisabete I, a Rainha Virgem (“ela é tão virgem quanto eu sou católico”, comentou o huguenote Henrique IV). Bem distante da heroína celibatária das estúpidas hagiografias protagonizadas por Cate Blanchett, e da onisciente deus ex machina de Judi Dench em Shakespeare apaixonado, a Elisabete de Emmerich — regiamente interpretada por Vanessa Redgrave na velhice, e na juventude pela filha de Vanessa, Joely Richardson — é uma mulher de carne e osso, amante da vida, do teatro e dos amantes que o seu poder atrai, embora não tanto dos bastardos que tem com eles.






Curiosamente, embora reduza Shakespeare a um impostor, chantagista e homicida, o filme é um hino de amor ao teatro shakespeariano, assim como o romance Borges gibt es nicht, de Gerhard Köpf (outro alemão), é uma das maiores homenagens já prestadas ao genial Jorge Luis Borges, apesar de este ser, no livro, um reles ator a serviço do argentino Bioy Casares, verdadeiro criador da obra inigualável que o mundo inteiro atribui a Borges.




A despeito das declarações bombásticas do cineasta sobre o Cisne de Avon ser uma fraude, e cujo objetivo não é outro senão vender o seu peixe, a mensagem sutil de Anônimo é o postulado de Oscar Wilde: “revelar a arte e ocultar o artista é o objetivo da arte”. Ou seja, não importa quem criou a obra shakespeariana (que inclusive pode ter mais de um autor, como a de Homero); o que importa é conhecê-la. Somos muito personalistas, e o personalismo é nefasto, pois origina aberrações como religiões, cultos a políticos populistas, partidarismos e sectarismos. A própria Bíblia, embora escrita por dezenas de autores desconhecidos, foi o best-seller do Ocidente durante séculos só porque o atribuíram a um único autor: Deus.




É inevitável comparar essa fita com a outra que mais explorou a persona do dramaturgo inglês. Filme leve para ser assistido com a família — e por essa razão, mais que por suas qualidades, premiado com sete Oscars —, Shakespeare apaixonado, de John Madden, seria como uma das próprias comédias shakespearianas, ao passo que Anônimo equivaleria a uma das tragédias, nas quais o Bardo atingiu a maturidade poética. Uma coincidência irônica é que Kit Marlowe, no filme de Madden, também acaba morto por Will, embora por acidente, ou ao menos é o que este pensa.




No prólogo de Anônimo, o grande ator Derek Jacobi — que fez o mesmo papel de coro no excelente Henrique V de Kenneth Branagh — oferece ao espectador uma história diferente, “mais sombria” que a tradicional, “sobre um palco conquistado e um trono perdido”. Esse trono perdido é a surpresa final do filme.



Anônimo não ganhará tantos Oscars quanto Shakespeare apaixonado, porque uma comediazinha romântica terá sempre mais audiência que o mais sublime drama. Quer se goste do filme de Emmerich ou não, ele tem o mérito inegável, já na sua concepção, de despertar curiosidade sobre as peças e poemas que menciona — Hamlet, Henrique V, Sonho de uma noite de verão, Como gostais, Macbeth, Ricardo III, Vênis e Adônis, etc. — nas pessoas que não os conhecem, lançando talvez a semente para uma nova geração de admiradores da obra shakespeariana (ou “deveriana”). Da obra, e não do homem, quem quer que este tenha sido.