11.2.08

Jornalismo histórico ao invés de História

Num primeiro momento, 1808, de Laurentino Gomes, pareceria um D. João VI no Brasil for dummies, exceto pela abrangência da pesquisa realizada – ainda que exclusivamente de fontes secundárias – e pela pertinência das analogias entre o Brasil de hoje e o de duzentos anos atrás. O livro também se apóia demais em fontes extraídas da internet, o que é edificar sobre a areia, mas isso faz parte da nova tendência de escrever História neste país: a acessibilidade e a fluidez textual substituindo o rigor histórico e a elegância estilística. O estilo jornalístico já invadiu a literatura, agora se apodera da historiografia. Concordo que Oliveira Lima é meio chato de ler, mas que ensina a escrever, ensina. 1808 desperta o gosto pela História do Brasil, embora não pelo idioma do Brasil (assumindo que este ainda seja o português).

Não tenho pachorra para conferir a pletora de dados e números fornecidos na obra, mas confesso que minha fé na exatidão do autor foi levemente abalada por ele não ter, a julgar pela bibliografia, consultado uma fonte primária sequer – isto é, documentos originais, ao invés de outros livros que citam esses documentos – e também por ter errado feio ao parafrasear Chateaubriand, que definiu Napoleão como “o mais poderoso sopro de vida que já animou o barro humano”, e não como “o mais poderoso sopro de vida que já tinha passado pela face da Terra”, conforme citou Laurentino na página 44. Tampouco entendi o uso de “George III” ao invés de “Jorge III”, uma vez que a obra está, ao menos oficialmente, redigida em português. E o “benções” da página 146, juntamente com os muitos outros erros de ortografia e gramática ao longo das mais de 400 páginas, não me surpreenderam de todo, familiarizado que já estou com a péssima qualidade da Editora Planeta no que tange a revisão de texto e traduções.

Mas são bagatelas, admito, e essa pequena obra-prima do jornalismo histórico bem merece ser adotada por escolas de ensino médio do país.