15.1.08

Obrigado, fundamentalistas!

Sempre que um grupo fundamentalista se manifesta contra alguma obra de arte ou entretenimento, faço questão de conhecer essa obra, não importa o que os críticos digam a respeito dela. Via de regra, tais obras são muito boas; afinal, se os fundamentalistas as odeiam, é porque algo de bom elas devem ter. E, de fato, devo aos xiitas iranianos e neopentecostais, respectivamente, o prazer de ter conhecido Os Versos Satânicos, de Salman Rushdie, e os livros da série Harry Potter.

Desta vez, minha dívida é com os fundamentalistas católicos norte-americanos, que se mobilizaram para boicotar o belíssimo e encantador filme de fantasia A Bússola de Ouro, alegando que o romance em que se baseou, escrito pelo inglês Philip Pullman, é essencialmente anticlerical. Falam sobre uma “campanha insidiosa” para inculcar ateísmo às crianças e denegrir o cristianismo. O porta-voz dessa insanidade é um energúmeno chamado William Donohue, presidente de uma tal Catholic League, cujo logotipo não tem cruz alguma, mas tão-somente uma espada.

Em vista disso, não tive dúvidas: assisti ao filme, amei cada minuto de projeção, e comecei a ler o livro, tudo graças ao boicote desses fanáticos. Impressa ou projetada, A Bússola de Ouro, com sua simpática protagonista mirim, seus animais falantes, ursos polares de armadura e belas lições de coragem e amizade, não denigre igreja específica alguma. Em contrapartida, os prelados sinistros e intolerantes da organização intitulada Magisterium, vilões da premiada trilogia His Dark Materials de Pullman (traduzida aqui como Fronteiras do Universo), lembram muito o boçal Donohue e sua liga fascistóide.

Façam um favor às crianças de vocês e às crianças que há em vocês: assistam ao livro e leiam o filme A Bússola de Ouro.