
A idéia de traduzir as insinuações e entrelinhas de Machado de Assis usando recursos teatrais e alegorias burlescas não é nova — houve nos anos 80 uma tentativa patética de verter nesse formato o Memórias Póstumas de Brás Cubas —, mas nunca foi tão bem-sucedida quanto nesta versão de Dom Casmurro adaptada por Euclydes Marinho para a TV. A direção de Luiz Fernando Carvalho é nada menos que perfeita, o elenco é impecável e a fotografia de encher os olhos. As vinhetas mostrando pedaços de fotos e recortes de jornais antigos retrata maravilhosamente as recordações fragmentárias do memorialista Bentinho. Este recebe seu apelido num trem da Central, não num bonde, e o Otelo a que assiste não é o de Verdi, mas o de Orson Welles, anacronismos expressionistas que acentuam melhor que qualquer montagem naturalista, de época ou não, a universalidade e perenidade do tema. O genial Bruxo do Cosme Velho teria ficado orgulhoso.
Aliás, leio na Veja que o subgênero da telenovela anda perdendo audiência, coisa impensável anos atrás. Notícias como essa, aliadas a obras da qualidade de Capitu, tornam mais fulgurante a luz que desponta no fim do túnel.