Não sei se alguém já utilizou o termo "teatro sensorial", mas mesmo que não tenha, o espetáculo alemão Big in Bombay, a que assisti na terça-feira, é exatamente isso. Na babel de povos e raças que habitavam a Roma antiga, os espetáculos cênicos preferidos eram as pantomimas, sem palavras para atrapalhar, tendência que se observa também no mundo globalizado de hoje. O texto teatral, tão importante para consolidação de idiomas nacionais, cede lugar à dança, a algaravias e esforços circenses. Big in Bombay é tudo isso, somado a um irresistível nonsense que jamais nos permite antever a próxima cena. A caótica cena final dá o tom do que foram todas as anteriores: o elenco fechado numa redoma de vidro, todos lutando contra todos enquanto chuva cai torrencialmente apenas dentro da redoma, e em cima dela uma mulher com a cabeça coberta por um saco, dando machadadas a esmo. Imaginem A Cantora Careca, de Ionesco, adaptado como musical da Broadway por um indiano, e terão uma idéia apenas aproximada do que é Big in Bombay.

Quarta-feira foi a vez de Fernando e Isaura, a versão de Ariano Suassuna para o mito romântico de Tristão e Isolda. Montagem impecável, aproveitamento de recursos cênicos prodigioso. Uma pessoa com uma vela na cabeça convence-nos que é um navio, duas pessoas segurando ramos formam bosques perfeitos.
