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Revisitando o spleen ou tédio de Álvares de Azevedo, os jovens brasilienses de Vinicius Castro vão gradualmente percebendo que o tempo e o espaço não precisam de nós, antes nos ignoram olimpicamente, que a existência não é forjada por acontecimentos e peripécias, e sim pela somatória de impressões gravadas no cérebro, que não há de fato lições a aprender ou a ensinar, mas tão somente sensações às quais reagir, ou não reagir. Preferivelmente não reagir. Há poucas reações a tudo em Os sinais impossíveis: a ditos espirituosos, a rompantes ideológicos intelectuais, ao sexo. O niilismo perpassa a narrativa como uma névoa na qual despontam luzes de diversas cores, mas sem intensidade suficiente para romper o invólucro gasoso.
Meus olhos continuam fechados, vão se abrir daqui a pouco com alguma expectativa diante daquela coisa toda, a repetição que eu preciso sustentar e aceitar, a retomada. O mundo cheio de graça esperando que eu o ganhe de volta, que eu disperse todos os restos e o bote para funcionar, que eu viva deliberadamente.
Estatelado bêbado no chão, um dos moços reflete: “Eu temo pelo que a umidade e a sujeira do meio-fio podem fazer com minha calça, mas não é como se fosse fazer algo sobre o assunto”.
Em meio a essa inundação de descobertas precocemente envelhecidas e degeneradas em frustrações, emerge o romance vacilante de João e Luísa, rapidamente enredado na teia de relações humanas cada vez mais difíceis e sufocado pela série de rituais que tentam forjar a nossa realidade. O principal personagem, no entanto, é a própria narrativa, que por meio da descrição dos mais prosaicos objetos e gestos faz derramar de cada página um fluxo lírico quase ininterrupto de imagens embaladas por um vocabulário profundamente musical e pontuadas, aqui e ali, por diálogos de acentuado coloquialismo.
Os sinais impossíveis pode ser visto como um magnífico exercício de impressionismo na literatura, mas também como uma crítica poética à sociedade de produção e consumo, responsável pela banalização dos relacionamentos, pela falência de ideais e valores, pela deterioração dos padrões culturais e por limitar os sonhos da juventude a gratificações instantâneas, tão efêmeras quanto websites, nessa gigantesca engrenagem capitalista que reduz os indivíduos a uma massa virtual configurada para consumir ou ser “deletada”.